Inversão de valores
Neste primeiro artigo de 2014 não poderia deixar de dar meus pitacos a respeito do que vem acontecendo nos últimos tempos no basquete brasileiro, mais especificamente na função de técnico ou treinador de basquete, atividade que exerci, com muito orgulho, durante quase 30 anos de minha vida. Ouvi uma frase recentemente do técnico Edvar Simões afirmando que “estão futebolizando nosso basquete”. Sei que a respeito de troca de treinadores nada se compara ao futebol brasileiro. Chega a ser desrespeitoso e intrigante a facilidade com que os dirigentes de times de futebol agem com seus treinadores. Qualquer principio de crise ou uma sequencia de derrotas o treinador já fica com seu emprego ameaçado.
No futebol, com raras exceções, o treinador não consegue cumprir um planejamento de trabalho até o fim da temporada. Nos esportes de quadra, isto é um pouco diferente, culturalmente não existem trocas constantes de treinadores, mas recentemente alguns dirigentes do nosso basquete resolveram imitar esta atitude tão discutível da maioria dos clubes de futebol do Brasil. Sinceramente, o que ocorreu nos últimos dias com dois de nossos melhores técnicos e porque não, ícones de nosso basquete, nos deixa com a sensação que realmente estamos vivendo uma inversão de valores no nosso esporte, coisa que já acontece há muito tempo em diferentes segmentos da sociedade brasileira.
Como podemos tratar Hélio Rubens e Edvar Simões desta maneira. Sei que o dirigente tem todo o direito de trocar o comando de sua equipe, mas tudo tem que ser feito com ética e respeito profissional, mais ainda quando falamos de dois técnicos que estão entre os melhores da história do basquete brasileiro. Aprendi muito com eles. Edvar Simões foi minha referência como técnico de basquete. Hélio Rubens, mesmo jogando contra dezenas de vezes, como a final do campeonato paulista de 2006 entre Conti/Assis e Franca, me ensinou muito, principalmente na maneira de comandar seus jogadores. Fico pensando, se lhes tratam desta forma, não respeitando suas histórias, seus currículos e tudo o que fizeram de bom para o basquete brasileiro, imagine com todos os outros.
Na minha visão, esta inversão de valores no basquete brasileiro já vem acontecendo há algum tempo, trazer técnico estrangeiro para trabalhar aqui virou moda, é chique, tem até o direito de realizar campanha pífia e ridícula que permanece no comando, recebendo até elogios, mas se fosse um técnico brasileiro, seria escorraçado e demitido do cargo. Não sou bairrista e muito menos preconceituoso, mas com todo o respeito, tenho a convicção que também temos excelentes profissionais que poderiam estar dirigindo algum clube de nosso país ou até ocupando a cadeira de técnico de nossa seleção. Mas, na visão de alguns de nossos atuais dirigentes, temos que continuar importando técnico porque se Hélio Rubens e Edvar Simões não servem, imaginem os outros. Repetindo o que escrevi recentemente, temos que valorizar o que é nosso, só assim, nosso basquete poderá continuar crescendo e prosperando nos próximos anos. Como a melhor resposta é o tempo, vamos aguardar com ansiedade que legado deixará ao basquete brasileiro a passagem de tantos técnicos estrangeiros em nosso país. Vamos ver quantos títulos conquistaremos a partir desta decisão, tanto nossos clubes, quanto nossa seleção. Sei que alguns que estão lendo este artigo irão achar que estou advogando em causa própria, não me importo porque não é verdade, escrevo isso porque não posso concordar que alguns companheiros de profissão e bons técnicos, fiquem sem espaço para trabalhar em nosso basquete.
Não quero citar nomes, mas quem acompanha basquete sabe que minha opinião tem fundamento. Quero aproveitar o assunto para convidar a todos para acessarem o site da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e conhecerem um pouco da história da participação de nossos treinadores no Campeonato Nacional de 1990 até 2008, vale a pena acessar: www.cbb.com.br/competições. Finalizando, representando muitos “basqueteiros” do Brasil, gostaria de agradecer e homenagear publicamente os técnicos Edvar Simões e Hélio Rubens por tudo que representam ao basquete brasileiro, não só por serem excepcionais profissionais, mas por terem feito da profissão de técnico de basquete um legado, uma missão e um belo exemplo a ser seguido. Parabéns!
Marco Antonio Aga