EU ESTOU AQUI
Eu gosto muito do Real Madrid, talvez porque na minha primeira seleção brasileira, na categoria sub12, tenha viajado à Espanha para fazer alguns amistosos lá e em Portugal.
Treinamos no antigo ginásio do time adulto de basquete, assistimos a uma partida da equipe principal (jogamos a preliminar), mas nada me marcou mais do que ir ao estádio Santiago Barnabeu e ver o Real Madrid jogar.
Nessa semana o Real Madrid garantiu a sua classificação para a próxima fase da liga dos campeões, mas achei (sim, no futebol eu “acho”) que o time foi uma pálida sombra do que é e que, sem Cristiano Ronaldo, o time é mais um entre tantos.
Esse fato me remeteu ao passado, quando o saudoso José Cláudio dos Reis (a maior perda do nosso basquete) nos dizia na época (anos 80), que o basquete era um esporte onde o progresso técnico de um único jogador fazia o seu time ser muito melhor também.
Hoje temos vários exemplos disso, em todos os esportes a começar por Cristiano Ronaldo no Real, mas podemos citar os Bulls sem MJ, Cleveland sem LBJ, o Nápoles dos anos 80 sem Maradona, todos muito diferentes quando completos, mas muito “normais” sem seu melhor jogador.
A “individualização dos esportes coletivos” é um processo que parece atingir não só os esportes como também as instituições.
Para termos sucesso nos dias de hoje é preciso entender que a melhora do indivíduo traz grande progresso ao time, à empresa, etc.
Quem investir nisso está na frente.
NÚMEROS
Desculpem-me, mas gosto muito de pegar no pé do pessoal que tenta explicar tudo o que acontece no jogo através de números.
Se em alguns esportes isso é possível, o mesmo não ocorre no basquete pela simples razão que não se pode ver nos números como aquele passe, aquele arremesso que entrou (ou quase entrou), aquela defesa que teve sucesso foram conseguidos.
Sim, já existem programas super completos e complexos que tentam explicar tudo (ou quase tudo) o que aconteceu em campo e que também dão valor ao que não aconteceu: uma assistência perfeita a qual o jogador não fez a cesta, um arremesso totalmente livre que não entrou, etc.
Sempre perguntei aos amigos dos números sobre duas situações (extremas, reconheço): a primeira é a de um jogador que num determinado jogo arremessa dez bolas e acerta oito e a segunda é a de um outro jogador que das dez bolas arremessadas acerta apenas duas.
Pergunto a eles qual jogador eles escolheriam para arremessar a bola do jogo e a resposta é sempre automática e óbvia: Claro que é o primeiro, me dizem.
Pergunto-lhes, então, se as duas bolas erradas pelo primeiro jogador ou as duas bolas acertadas pelo segundo tivessem sido as decisivas (valendo o jogo ou o campeonato, sei lá), qual deles escolheriam e aí é que os números deixam a desejar porque não exprimem, como disse, a situação em que foram adquiridos.
Digamos que MJ fosse o cara que arremessou 10 e fez 2 e qualquer um outro tivesse (no mesmo jogo) feito 8 bolas em 10. Pra quem você daria a bola do jogo¿
Exagerei, é claro. Mas vejam por exemplo o que ocorreu na NCAA, campeonato alma mater das estatísticas.
Tudo que se move no basquete universitário norte-americano é contado. E todas as conclusões são fortemente influenciadas por essas contas.
Todo mundo sabe que em certas situações as pessoas envolvidas também influenciam.
Como exemplo citamos Duke de coach K, que na “preseason” está sempre entre as melhores, mas o mesmo acontecia com Indiana de Bobby Knight ou North Caroline de Dean Smith, muitas vezes eram “rankeadas” bem acima dos talentos que realmente tinham à disposição.
Nesta temporada chamou-me atenção o fato de muitas zebras terem acontecido e fui olhar os rankings das finalistas depois que Connecticut venceu Kentucky na final da NCAA.
Muito bem, temos dois rankings que contam: os dos técnicos da Divisão I e o da Associated Press (AP), ambos pubilcados no
www.espn.go.com
Na preseason os dois davam como favorita ao título à Kentucky, enquanto que Connecticut nem no ranking estava.
Baseados em estatísticas e nos resultados dos jogos das duas finalistas antes de começarem as finais, o ranking da AP tinha Kentucky em 28º lugar e Connecticut em 18º.
Os treinadores, entretanto, tiraram Kentucky de seu ranking e colocaram Connecticut no 19º lugar.
Bem verdade que KU perdeu 11 partidas na temporada e UConn 8, o que estatisticamente desqualificariam as duas para qualquer prognóstico mais positivo.
Expliquem-me essa com números, por favor.
CHEGOU O GENERAL DA BANDA
Gosto do excelente treinador R. Mangnano não só pelo seu conhecimento do jogo, como também por ele reconhecer como importantes os jogadores que defenderam seus países em épocas passadas.
Também gosto dele porque ele e sua esposa tratam muito bem minha filha quando se encontram com ela em jogos e eventos pelo Brasil a fora. Isso para um pai é tudo de bom.
Eu não quero ser chato, não e é claro que essas são apenas as minhas opiniões sobre os assuntos aventados pelo treinador da nossa seleção para a preparação da equipe que disputará o próximo mundial.
Gostaria apenas de lembrar que já foi longe o tempo em que tratávamos uma competição como uma guerra, mesmo porque (como o caso dele) pode-se jogar contra o próprio país e se formos tratar um jogo como uma batalha, corre-se o risco de ser mal interpretado pelos dois lados.
Ficou muito claro nesse discurso militarizado (“eu sou o general e quero saber se posso contar com os meus soldados”), que R. Magnano quer, pelo simples fato de querer, que seus “comandados” aceitem e lhe devam inconteste subserviência, no sentido de que ele, general, manda e os jogadores (e todo os outros envolvidos) obedecem, afinal de contas existe linha de comando pra isso mesmo (antigo isso, né?).
Em primeiro lugar, acredito que o treinador de uma seleção seja um gestor de situações e principalmente de pessoas e que não esteja ali para exercer sua função na base do “eu mando e vocês obedecem”, mas sim que proponha caminhos e estimule a criatividade e iniciativa (pois jogo de basquete é o quê?) para que todos se sintam estimulados a darem seu máximo quando forem acionados.
Ser totalitário significa filosoficamente dividir seus seguidores em duas facções: os que aceitam essa condição e, sem pensar nas conseqüências, aproveitam-se das benesses do líder para compor a classe que o apóia sem questionar e os explorados, que sofrerão a força desse totalitarismo sem esboçar reação.
Em ambas situações todos diminuirão sensivelmente sua contribuição.
Todo sistema totalitário é obrigado a explorar um grupo ou uma classe social e esse é historicamente o fim do próprio sistema.
Se prestarem bem a atenção aos nomes de jogadores citados por ele na citada entrevista, notaremos que alguns já são considerados “seus soldados”, outros (embora ele decisivamente não afirme isso) se convocados estarão no segundo grupo (aqueles que lhe causaram amarguras e rancores) e restam ser definidos ainda os poucos que só terão vez se submeterem a esta ordem de coisas (para não dizer linha de comando).
Talvez o nosso “general” não saiba que nós nativos não gostaríamos de participar da “alma” (como é chamada a seleção de lá) argentina, mas sim que ele nos trouxesse a sua competência técnica dentro da nossa realidade como indivíduos brasileiros, mais sensível a um líder que nos deixasse expressar nossa cultura, intuição e criatividade dentro de um jogo que ele (R. Magnano) entende tão bem.
TIME OUT
Como sempre, esse espaço é dedicado aos treinadores iniciantes, bem como aos treinadores de outros esportes.
Parece óbvio, mas PRESTAR ATENÇÃO AO JOGO é fundamental.
A maioria das vezes nossos jogadores e nós mesmos pensamos apenas nas nossas jogadas, nas nossas defesas, mas nos esquecemos de coisas fundamentais como:
Existe apenas uma bola para dez jogadores em campo, logo a movimentação sem a bola é mais importante que a movimentação do jogador com a bola.
Movimentar-se sem bola significa tomar consciência do posicionamento dos outros nove jogadores (você, no mesmo momento, não pode ocupar um espaço já ocupado por um outro jogador).
Ao contrário do que prega o “General” Rubens Magnano, o basquete não é uma guerra, o jogo não é uma batalha e o adversário não é seu inimigo.
Muito pelo contrário, no jogo de basquete o adversário é o seu maior amigo (quem disse isso foi o Tex Winter, portanto...), pois é ele que te mostra por onde atacar.
Por isso faça seu jogador prestar atenção no posicionamento dos pés e pernas do adversário, a sua localização na defesa, para onde ele está olhando, por que ele irá lhe indicar o caminho mais fácil para o sucesso do ataque.
Quando ele fecha a linha do passe, por exemplo, ele também abre o “back-door”.
Quando ele toma a frente do nosso pivô, ele abre o garrafão do outro lado e se ele ficar só com meio corpo à frente, ele também abrirá um lado para o nosso pivô se aproveitar
Mesmo os que não participam do jogo devem ser ensinados a prestar atenção nele, pois no banco de reservas é muito mais fácil ver onde estão as falhas ofensivas e defensivas de ambas as equipes.
Um exercício sensacional para isso é fazer periodicamente um treino inteiro em silêncio, ou seja, a partir de quando começa o treinamento ninguém no ginásio poderá falar ou emitir sons orais (sim, poderemos nos utilizar de outras maneiras não verbais de comunicação).
Se levar o treino até o final sem que nem você, nem seus jogadores, nem ninguém no ginásio fale uma palavra é porque conseguiu fazer com que seu time a esse princípio do jogo fundamental.
Prestar atenção ao jogo é quase tudo.
Obrigado e até o próximo TAC.