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BASQUETE - Editorial

TODAS AS CESTAS

22/03/2014 15:43 h

         

I DON’T FIT
 
Eu posso entender o que passou pela cabeça de Phil Jackson nesse período em que ele ficou fora do grande jogo.
 
Phil sempre teve idéias próprias e essas fugiam da capacidade de entendimento do “Front Office”, a turma da grana, que tem o poder de decidir e só por isso acha que entende do jogo.
 
Eu imagino Jackson vendo essas barbaridades que as equipes da NBA cometem a todo instante (Lakers principalmente) e não tendo voz para opinar e agir.
 
Para piorar PJ se apaixonou pela filha do dono, uma das executivas dos Lakers (a da metade administrativa) e isso gerou um desequilíbrio no organograma dos time de Los Angeles.
 
O Lakers é basicamente uma organização familiar, que era dirigida por um chefe durão (Jerry), mas  com sérios problemas de saúde, o que provocava um cenário politicamente difícil para os Buss (gente com muito poder e nenhuma capacidade de entender alguém como PJ).
 
O já esperado falecimento de Jerry Buss dividiu o poder entre seus filhos e a situação de PJ, por estar emocionalmente ligado à filha de Jerry, azedou de vez.
 
Para vocês entenderem, a metade executiva dos Lakers é dirigida pelo irmão, logo a presença de PJ (e seu cabedal técnico) gera um conflito insuportável à organização.
 
A própria Jeanie declarou que realmente não havia lugar para ele nos Lakers.
 
 
UPSIDE DOWN
 
“Pêra aí!” O cara me ganha 13 títulos na NBA, faz verdadeiras cirurgias neuroemocionais nos mais variados malucos da liga (Rodman, World Peace, etc), controla e ao mesmo tempo exalta o potencial dos melhores jogadores de basquete que vimos nas últimas décadas, além de tirar o melhor de gente que sumiu depois que saiu debaixo de sua batuta e ele não cabe nos Lakers?
 
Desculpem-me, “mas vai cuidar da casa, minha senhora!” (exagerei, perdão).
 
Com todo o respeito que eu possa ter por essa opinião, não dá pra imaginar um time de basquete no mundo onde PJ não possa atuar.
 
“Se a senhora não consegue ver uma posição para PJ nos Lakers é porque o negócio aí tá feio mesmo!”
 
O problema é que ele simplificou um mundo esportivo que todos acreditavam ser complicado.
 
O seu discurso de apresentação nos Knicks foi sóbrio, objetivo, tocou nos pontos importantíssimos para um time especial, localizado numa cidade única, vibrante e paradoxal.
 
Pelo que vi no jogo contra Indiana (um dos líderes do campeonato), esse discurso já começou a dar frutos.
 
Os Knicks mostraram muitos momentos de “system basketball” durante esse jogo, numa prova de que qualquer jogador, em qualquer nível, é sensível a uma orientação que realmente lhe ajude ( mesmo se não concordarem com nada do que eu escrevo, por favor guardem isso que está em negrito).
 
A pergunta é: como é que um cara desses pode ser tão ignorado assim?
 
O mundo do basquete está mesmo girando pro outro lado.
 
 
SYSTEM BASKETBALL
 
Phil é a pessoa ideal para catalisar grandes feitos e grandes conquistas, pois sabe tirar da situação (e das pessoas envolvidas) o melhor que ela possa render.
 
São tantas as histórias que a gente testemunhou no passado, que falar delas é uma redundância que vem junto ao seu nome.
 
Na verdade o namoro de PJ com NY sempre existiu.
 
Embora não estivesse entre os melhores de seu tempo, Phil sempre foi notado pelo torcedores dos Knicks.
 
Cada vitória, cada sucesso seu, já como treinador, era um tijolinho a mais no castelo de desejo dos Knicks em tê-lo em sua equipe.
 
Introduzido como presidente dos Knicks, logo de cara, ele deu as diretrizes de sua gestão para a equipe: proteção aos jogadores, bom relacionamento com torcedores e com a mídia e principalmente o basquete jogado como ele acredita: movimentação da bola, passes, cortes dos jogadores para liberar seus companheiros... tudo o que os Knicks atualmente não tem.
 
Eu sempre gostei dos Celtics. MJ e PJ me fizeram adorar os Bulls. PJ transformou os Lakers e me transformou junto.
 
Chuta quantos jogos eu vou ver dos Knicks daqui pra frente.
 
 
TIME OUT
 
Como sempre, esse espaço é reservado aos que iniciam na arte de ensinar o jogo.
 
A primeira e principal coisa que Phil Jackson declarou sobre o basquete jogado foi que ele acredita no “System Basketbal”.
 
O que é isso? O que o Basquete de Sistemas difere do que vemos todos os dias, em quase todos os jogos?
 
Sim, porque depois que PJ saiu das quadras nunca mais vimos um verdadeiro sistema de jogo, mas sim jogadas sem fim, sem ligação entre elas e principalmente sem sentido definido.
 
Testemunhamos também que, a cada dia que passa, o basquete está se tornando o primeiro jogo coletivo a individualizar-se, ou seja, se no passado recente ainda víamos uma jogada aqui e ali e muito pick and roll, hoje este último está cada vez mais raro em benefício de um jogo onde abre-se o campo e quem está com a bola tenta jogar sozinho.
 
As jogadas praticamente sumiram.
 
Vemos isso na NBA, na LDA, na Euroliga, no NBB e até nas categorias de base.
 
Apertou¿ Abre os cinco e quem tá com a bola joga sozinho.
 
O jogo atualmente é isso ou está se transformando nisso.
 
Ver o Lakers de hoje atuar é uma cacetada no bom senso e nos conceitos do grande jogo.
 
Eu não estou dizendo que é preciso repensar o jogo, mas vejam bem, enquanto vocês me lêem, posso imaginar um treinador de categoria de base (em qualquer lugar do mundo), que ao invés de melhorar os fundamentos individuais de seus jogadores (passes, dribles, arremessos, leitura do jogo), está simplesmente individualizando seu time, talvez para levar vantagem imediata em alguma competição menor, ou mesmo para imitar LBJ, inconsciente de que está atrasando (ou ceifando) o desenvolvimento de muitos talentos em potencial.
 
Individualizar um time é pegar seu melhor jogador e dar a ele a quase total responsabilidade ofensiva da equipe, enquanto especializa os restantes em abrir espaços, pegar rebotes, fazer corta-luz para o bam bam bam e tudo isso está muito longe de ser útil ao crescimento da equipe e dos jogadores (do bam bam bam inclusive).
 
Cada dia que passa esse é o exemplo a ser seguido e eu acredito firmemente, que o jogo está sim se individualizando, só que os conceitos de sistema de jogo podem muito bem incorporar essa tendência.
 
Phil Jackson com suas idéias simples e vencedoras se propôs a mudar isso.
 
No modo de jogar atual vale muito a movimentação dos jogadores, as jogadas já estudadas por todos e os grandes chavões técnicos (P&R, isolamentos, bloqueios e corta-luzes) que ainda perduram.
 
Já num sistema de jogo (“system basketball de PJ) o importante é o posicionamento dos jogadores, a movimentação da bola, que é conseqüência dos passes, os cortes para posições onde o adversário não está (para abrir espaços aos companheiros) e, é claro, o bom uso dos fundamentos.
 
Também é preciso ter a consciência de que todos os envolvidos no sistema são capazes de tomada de decisão e por isso devem ser sempre produtivos no ataque (seja passando, driblando ou arremessando).
 
Como a gente ensina isso para o nosso time? Como a gente desenvolve a base com esses conceitos?
 
Meu amigo, Prof. Julio Malfi, que foi meu assistente técnico em várias equipes e é um treinador que conhece o sistema de jogo de PJ como poucos, ao pensar num método de treinamento desse sistema para as categorias de base, adaptou para esse fim um conhecido joguinho recreativo, que todo professor de educação física conhece.
 
É o famoso “coelhinho sai da toca”.
 
Viram como é simples¿ Vocês pensando em um mirabolante “drill” de um famosão qualquer e vem o Julio com o “coelhinho” para ensinar um sistema de jogo dos mais sofisticados.
 
De qualquer maneira, não é mérito dele ou meu, mas sim de Phil Jackson, que sempre nos iluminou com seus conceitos e idéias.
 
Se você não acredita na gente, por favor acredite no PJ.
 
Ele conhece esse negócio (vai me falar que não?).

Marcel de Souza
marcel@databasket.com
Administração

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