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BASQUETE - Editorial

TODAS AS CESTAS

03/05/2014 13:09 h

         

BOI DE PIRANHA
 
Quero pedir desculpas aos meus leitores pela ausência do TAC na última semana.
 
Como bem falou o nosso editor Frederico Batalha, agora o TAC deveria passar a se chamar “QUASE TODAS AS CESTAS” (quá, quá, quá!).
 
O motivo foi que fiquei um tanto quanto aborrecido, pra não dizer outra coisa, pela grande quantidade fatos que ocorreram naquela semana, todos eles colocando o nosso basquete numa posição que ele jamais deveria ocupar.
 
Não vou entrar em detalhes, mas todos sabemos que a semana que passou foi terrível e seguramente eu ia “perder a mão” e como sempre desancar a torto e a direito.
 
Em primeiro lugar, não é esse o objetivo do TAC. Depois, já estou um pouco cansado de “lutar contra os moinhos” para que, no final, outros (que deveriam também lutar por um basquete melhor) se calem e usufruam das transformações que pessoas como eu iniciaram.
 
Acredito fortemente que as grandes mudanças, necessárias ao progresso do nosso basquete, devam passar pelo jogo em si (dentro da quadra), mas o pessoal que não veste o uniforme poderia dar uma ajudazinha, né?
 
 
WIRED
 
Também tenho acompanhado com muito interesse às transmissões dos jogos da NBA, via Game Time, pois posso me dedicar a observar outros aspectos do grande jogo os quais fazem com que este tenha um diferencial em relação às transmissões no resto do mundo.
 
Além, é claro, das câmeras onipresentes, do replay que ajuda os juízes, do ex-NBA que sempre está lá comentando como “estive lá e por isso sei”, das “chacretes”, inigualáveis como escola de samba na Sapucaí, notam-se os microfones que captam absolutamente tudo o que é dito em campo.
 
Eu sou contra esse negócio de colocar microfone em juiz, pois acho que isso pode (atenção, eu disse pode e não falei vai) influenciar a decisão do mesmo.
 
Tanto que na NBA, quase todo mundo está “vigiado”, menos suas senhorias, pois uma decisão errada pode fazer migrar milhões de dólares de u’a mão para outra.
 
O que quero colocar, entretanto, é que pelo fato do comentarista ser um técnico ou um experiente jogador que nos ensinam muito sobre o jogo, criou-se em mim o mito do técnico da NBA detentor de todo o conhecimento técnico, tático e emocional.
 
Ouvi-lo em ação seria então decifrar códigos e transpor barreiras que só os iniciados do grande jogo teriam direito.
 
Quando se inicia o último quarto a TV entrevista um dos técnicos para saber como ele está sentindo o jogo, suas expectativas, etc.
 
Bom, o que se vê é o mesmo lugar comum de sempre, até aí sem problemas porque, puxa vida, o cara tá lá no meio da guerra e vem uma mocinha “bunitinha” lhe fazer aquelas perguntas “frases feitas”, que só merecem o tipo de respostas que ouvimos (Phil Jackson era especialista em “quebrar as pernas” da bunitinha).
 
Mas quando, na hora agá, se coloca um microfone na lapela do técnico da NBA e o ouve dizer “vamos lá, joguem o nosso jogo, raça na defesa” o mito cai por terra.
 
Será? Gente, os caras falam essas coisas! Teve um outro dia que me fala: “façam a jogada até o final”. Ai, ai, ai.
 
E agora? Como é que eu fico? Eu pensei que esses caras tivessem uma forma diferenciada de tratar o jogador, mas o que ouço é “vamu lá”?
 
Eu, hein!
 
 
SALOMÃO
 
A LNB é o nosso maior avanço. Proporcionou, entre outras coisas, o desenvolvimento do basquete brasileiro e o colocou novamente na vanguarda continental.
 
Se hoje as equipes de outros países levam baile das brasileiras, se a final da LDA foi entre duas equipes brasileiras, se no futuro o “Final Four” da LDA fatalmente terá quatro equipes brasileiras e se os ginásios estão lotados, tudo isso é obra e graça da LNB.
 
A transformação feita pelos dirigentes de clubes brasileiros, que tomaram em suas mãos os seus destinos foi louvável e promete grandes frutos no futuro.
 
Tomo algumas decisões da nossa liga, como a final em apenas um jogo, como discutíveis, mas transitórias e necessárias para o nosso desenvolvimento.
 
Afinal de contas, as mudanças não ocorrem de um dia para o outro e no caso da final num único jogo, vão contra a crença futebolística de final em um jogo só ou de campeonato sem final (turno e returno e só), que no basquete não funciona mesmo, mas que no futebol é culturalmente arraigado e intocável.
 
Gostaria apenas de observar os tipos de penalidades impostas aos envolvidos no entrevero do jogo entre São José dos Campos e Palmeiras, pelos playoffs dessa temporada.
 
Assim, o SJC que continua nos playoffs levou multae perdeu o mando de jogo, enquanto que os integrantes do Palmeiras tomaram de 2 a 5 jogos de suspensão.
 
Além do fato óbvio de se demonstrar a intenção de preservar a “integridade” da equipe de SJC nos playoffs, o que louvável, notamos que, para uma mesma ação duas medidas punitivas foram tomadas.
 
São José, portanto jogará em “campo neutro” dois jogos decisivos e isto nos faz pensar que a educar o torcedor para que o espetáculo esportivo seja preservado é primordial para um jogo de basquete.
 
Já o Palmeiras também deve pensar em mostrar aos seus jogadores que mesmo uma frustração tão grande (e a campanha do palestra foi excelente) não deve provocar exaltações de ânimo que ultrapassem o risco de causar danos à integridade física de ninguém, nem deixar que fatos acontecidos num campeonato tenham influência no próximo torneio.
 
A LNB toma certas atitudes que são benéficas ao nosso esporte.
 
Lembro-me que antes do Jogo das Estrelas todos os jogadores foram “brifados” para que, embora fosse uma manifestação festiva, ainda assim aquela era um jogo de verdade e que os olhos de todos (via TV aberta e ao vivo) apreciariam ver um grande espetáculo.
 
Foi um sucesso. Espero que continuem com essa filosofia.
 
 
TIME OUT
 
Como sempre, esse espaço é dedicado aos iniciantes na arte de ensinar o jogo.
 
Existem três maneiras de controle sobre o jogador de basquete dos dias de hoje, em qualquer idade e nível técnico.
 
Se nos primórdios o técnico detinha quase todo o poder no já complicado relacionamento e ensinamento técnico do basquete, mandando e desmandando sem ter que se justificar nada para ninguém (alguns treinadores atuais ainda pensam desse jeito), hoje em dia, uma época em que temos contato com todas as “culturas cestísticas” ao alcance de um clique, o conhecimento do jogo e seus meandros é o fator principal de controle do time por parte do treinador.
 
Saber o jogo ou sobre o jogo significa ter seu conhecimento testado pelos jogadores, que não mais dependem somente de seu treinador para adquirirem tal conhecimento.
 
Se não temos respostas às demandas, dúvidas e perguntas de nossos jogadores perdemos credibilidade e respeito como técnico.
 
É melhor dizermos que não sabemos e perguntarmos a eles mesmos como resolver alguns problemas do que insistirmos no velho chavão “eu é que mando aqui, quem reclamar vai pro banco e não volta mais”, que há muito tempo deixou de ser uma forma de controle.
 
Pode-se perder definitivamente o time se insistirmos com essa atitude.
 
Pois bem, depois que mostrarmos a nossos jogadores que nossa liderança emana do conhecimento do jogo e que agimos de acordo com isso, o “banco” e o “bolso” são os “argumentos” que mais fazem valer a liderança de um treinador.
 
O jogador de basquete em qualquer nível é muito sensível a ficar sentado no banco em vez de jogar e a ter seu ganho financeiro ameaçado se agir ou provocar situações em desacordo com a liderança adquirida pelo treinador.
 
É claro que mexer no bolso dos atletas só pode ser utilizado se esses percebem uma quantia significativa.
 
Já o banco é uma serventia do treinador para ser utilizado com freqüência especialmente se  for explicado a eles (jogadores) o motivo da “sentada”.
 
Ofereço-lhes meu próprio exemplo: quando jogava na Itália, eu fui informado que seria punido com uma quantia razoável se recebesse uma falta técnica durante o jogo e com uma mais significativa ainda caso fosse desqualificado do mesmo.
 
Posso lhes garantir que em 6 anos tive apenas uma falta técnica computada, porque vi um jogador do time levar essa multa (educar por exemplo é muito importante).
 
Portanto, fica a dica: em primeiro lugar o conhecimento do jogo. Depois, o banco e o bolso.
 
Obrigado e até o próximo “quase todas as cestas” (quá, quá, quá!)

Marcel de Souza
marcel@databasket.com
Administração

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