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BASQUETE - Editorial

A CESTA QUE CAI SÓ NO SÁBADO

02/04/2016 23:19 h

         

RITORNELLO
Eu já escrevi isso mais de uma vez (e pena que eu não domine esse negócio de internet para escrever com link “aqui, aqui e aqui”) que o sistema de jogo mais adaptado ao jogador brasileiro é aquele que evidencie suas melhores capacidades, ou sejam, a intuição e a criatividade.

Muita gente confunde essas duas características, intrínsecas ao nosso jogo, com improvisação e bagunça.

Improvisar e bagunçar demonstra falta de compromisso, conhecimento, dedicação e treinamento num esporte onde essas qualidades são tão essenciais quanto os fundamentos do basquete (saber driblar, passar e arremessar e principalmente quando fazer essas coisas).

Já intuir e criar denota justamente estudo, conhecimento, treinamento, empenho, compromisso e noção de bem comum (fazer sempre o que é melhor para a equipe).

Não falo apenas do jogo de basquete, mas de qualquer jogo e da vida em geral, quando afirmo que quanto mais desenvolvemos as capacidades citadas no último parágrafo, maior é a nossa possibilidade de intuir e criar.

É a famosa pergunta que todo técnico (que ousa ser chamado assim) faz ao jogador quando interrompe um ataque (durante o treinamento) e lhe pergunta: “Parô! Parô! Daqui você vai prá onde?”

Na verdade o treinador quer saber qual a solução que seu atleta dará àquela situação.

O cara que conhece o jogo, treina, é comprometido e sabe o que é melhor para a equipe saberá escolher a melhor opção para aquele momento.

Aquele que só está pensando nele finge que não sabe ou dá uma solução tradicional.

Enquanto o que não sabe nada do que é jogar basquete e está alí por um outro motivo (dinheiro, fama, sucesso, preguiça, obrigação, vontade de outrem) não consegue responder e toma uma atitude evasiva.

No contexto brasileiro, a intuição e a criatividade é quase obrigatória para quem quer se dar bem.

Toda pessoa de sucesso por aqui não é apenas um trabalhador assíduo e contumaz, detentor daquelas qualidades já descritas, mas sim aquele que encontra soluções diferentes para cada vez que se depara com um mesmo problema.

Vilipendiarmos a nossa intuição e criatividade em benefício da improvisação e da bagunça (aliado à falta do treinamento apropriado – aqui, aqui e aqui) é o que está matando vários aspectos do nosso jogo.

ÁLVARO PACHECO
O nosso querido Álvaro, honestíssimo e dedicado armador, que defendeu as cores do Palmeiras e de Rio Claro e teve participações nas nossas diversas seleções, merece ser citado aqui.

Pois bem, Álvaro tinha o que o treinador Luis Carlos Gomes Rebelo, o Mical, grande formador de atletas e técnico de importantes equipes do nosso basquete, inclusive da jovem equipe do Monte Líbano, que mudou o nosso jogo introduzindo a “Flex Offense” a qual ele, com sua “baianidade”, chamava de “Pepino”.

Pepino porque esse sistema até hoje utilizado de um passe e um corta-luz, que dava ao ataque um moto contínuo (“motion offense”), visto por ele numa equipe norte-americana no longínquo 1984, colocava em extrema dificuldades os sistemas defensivos da época. Um verdadeiro pepino. Mas eu estava falando do Álvaro e cheguei no MIcal porque o nosso querido treinador (que me deu uma grande oportunidade num brasileiro juvenil em 72 e lá vou de novo) dizia que todo jogador tinha uma “jogada carro-chefe”.

A carro-chefe do Álvaro era a seguinte: quando a sua equipe batia um lance-livre na frente do seu próprio banco de reservas, ele ficava alí bebendo uma água, se enxugando, fingindo-se de morto, como quem não quer nada.

Assim que o adversário batia o fundo bola e saía para o jogo ele deixava a turma passar e batia a carteira do armador, recuperando a posse da bola e quase sempre fazendo uma assistência.

Ele sempre pegava um nessa.

Viram isso em algum lugar essa semana, né?

Sabem de onde vêm essas coisas que o Huertas fez e o Álvaro também fazia?

Não sabem? Leiam o Ritornello acima.

THE NAME OF THE GAME
Final four está aí na esquina e muito se falou do jogo em que uma equipe recuperou 15 pontos em pouco mais de dois minutos e meio.

Defesa, defesa e mais defesa, foi a palavra de ordem! Eu, como sempre, vejo tudo com outros olhos e afirmo que a melhor defesa é ter a posse de bola.

Ai, ai, ai! Já sinto a galera mais purista a me crucificar. Mas Marcel, você sempre fala em defesa como a solução de todos os problemas!

Lá na REDETV! Você fica perguntando “Qual é a solução prá isso? Qual é a solução prá aquilo? E a resposta é sempre a mesma: Defesa, defesa, sempre defesa!

Como é que fica, então? Os caras tiram 15 pontos em 2 minutos e você me diz que não é defesa? Se não é, então é o quê? Bem, eu não movo uma linha do meu pensamento. Acredito que defesa é mesmo o verdadeiro nome desse jogo, mas querem melhor defesa do que um rebote de ataque?

Um RO tira uma posse de bola do adversário e isso é o quê senão uma grande defesa?

Ter mais posses de bola que o adversário é sinal de quê senão de uma sensacional atitude defensiva?

O pessoal mais jovem não sabe, mas num tempo não tão longínquo assim (e eu joguei na Bradley na temporada 75-76 sob essa regra) não havia o “shot clock” o famoso relógio de 30, 45, 24, 14 segundos (de acordo com a época), e as partidas terminavam 16 a 8, 20 a 15, 18 a 12...

O que era isso senão ficar com a posse de bola para não tomar cesta?

Aliás, o relógio de tempo para arremessar foi criado para acabar com isso porque tornava muito monótono o jogo. E o que torna o jogo movimentado hoje em dia? O ataque? Ainda não, embora o Golden State esteja mudando novamente o jogo, o que torna o jogo interessante é a grande defesa seguida de contra-ataque e transição.

Quanto ao jogo dos 15 pontos em 2 minutos só tenho a dizer que naquele nível (NCAA, NBA, Euroliga, semifinal de Mundial e Olimpíadas e jogos selecionados) um time só recupera isso tudo se o outro fizer muita bobagem, interpretar erroneamente determinada situação, atacar quando não devia etc.

Além disso, o time que recupera não pode errar um único ataque.

Isso não é o nome do jogo e sim outra coisa.

MONTE LÍBANO
Não sei como a idéia surgiu, mas foi um fato que me deixou muito contente.

O CA Monte Líbano, que saindo de uma rivalidade secular com o outro lado da mesma família EC Sírio, acabou por dominar o basquete brasileiro e continental no final dos anos 80 e ínicio dos anos 90 fará uma festa comemorativa.

Tive o prazer de jogar nos dois times e guardo grandes memórias desses tempos.

Então, o pessoal se reuniu e irá fazer uma grande festa de confraternização entre dirigentes, técnicos e jogadores que defenderam as cores desse grandioso clube.

Tal evento acontecerá no segundo domingo de abril e seguramente estarei lá.

No fundo só nos restam as memórias e reviver esses tempos será muito importante para todos.

Marcel de Souza
marcel@databasket.com
Administração

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